segunda-feira, 31 de março de 2008

Sossegar...

"O que eu mais queria neste mundo era sossegar.
É um verbo que é preciso redimir. Sossegar não é descansar, nem traz felicidade nem se assemelha senão superficialmente à paz ou à tranquilidade.
Não quero acalmar-me, ou serenar, ou assentar. (…)O sossego é um estado de excepção, em que a alma vem ao encontro do corpo. Pode sossegar-se em momentos de grande agitação, de um acesso de amor, em que esse amor parece lucidez. (...) Não gosto do sossego como alívio ou interrupção.(...)
Sossegar não é descansar – não é uma consequência do cansaço. Há cansaços bons. O coração não sossega porque não tem com que sossegar.(...)
O sossegamento é a forma mais precisa de liberdade positiva – uma liberdade para sentir o que se sente e confiar no que se sente, e ter tempo, e vontade, e confiança no que se faz. Quando se olha para o rosto de uma pessoa amada, ou se recebe dela um gesto de amor, sossega-se.
Quando se sabe de antemão o que vai acontecer, ou como alguém se vai comportar, sossega-se.
Quando se faz uma promessa ou um plano que sabemos que se irá cumprir, sossega-se. Isto é sossegar.
Quando dois amantes decidem ter um filho, por muito medo que isso possa provocar, sossega-se.
Quando aparece um amigo sem avisar, interrompendo tudo o que se tencionava fazer, sossega-se.
Quando se está a lutar contra a injustiça e a maldade, com todas as forças que se tem, sossega-se.
Quando se lê um poema ou uma história bonita, sossega-se. (...)
Gosto de sossegar como verbo transitivo. Sossegar só por si não chega.
É mais bonito sossegar alguém. Quando se pede “sossega o meu coração” e se consegue sossegar.
Quando se sai, quando se faz um esforço para sossegar alguém. E não é adormecendo ou tranquilizando, em jeito de médico a dar um sedativo, que se sossega uma pessoa. É enchendo-lhe a alma de amor, confiança, alegria, esperança e tudo o mais que é o presente a tornar-se, de repente, futuro.
É o futuro que sossega. “Amanhã vamos passear” sossega mais do que “não te preocupes” ou “deixa lá, que eu trato disso”.
A aquietação, como o sono, é uma espécie de morte. Sossegar não é jazer. É viver!
Uma pessoa sossegada é capaz de deitar abaixo uma floresta. O sossego não é um descanso – é uma força.
Não é estar isolado e longe, deixado em paz – é estar determinado no meio do turbilhão da vida.(...)
O coração sossega em quem se conhece. Sossegar é conhecer uma totalidade, as coisas feias ou bonitas, mas previsíveis e familiares. É por isso que sossega olhar para um rosto amado, que se conhece, ouvir a voz dessa pessoa, mesmo quando está a dizer disparates. Não há falinhas mansas que tragam o sossego dos gritos de uma pessoa com quem se pode contar. É um alívio.
Só a ordem pode sossegar, por muito alterosa que seja. A tempestade sossega o marinheiro que conhece bem o barco e o mar. Não é o que diz a minha mãe que me sossega – é a minha mãe. Não são as palavras – é a voz. Não é ela estar aqui ao pé de mim – é saber que ela lá está.
No nosso tempo as pessoas querem o sossego ... Serem “deixadas” de alguma forma ou de outra. “Eu quero é que me deixem em paz”. Querem fugir. Querem ir para o campo. Meditar. Descobrir o “eu” interior. Mas a solidão e o silêncio não sossegam...
Só os outros nos podem sossegar. Só no meio da vida, em plena acção, se pode, vale a pena, estar sossegado. O “eu” interior é uma algazarra de desasossego. O budismo de trazer por casa que invadiu a nossa cultura, uma espécie de narcisismo espiritual, traduz uma noção repugnante de superioridade. Os outros podem ser o inferno, mas cada indivíduo ainda o é mais.
Não me saem da cabeça os instantes, poucos, em que me senti sossegar – e foi sempre graças a outra pessoa, vista ou lida, conhecida ou desconhecida, viva ou morta, menina ou crescida, sábia ou maluca, próxima ou longínqua, mas sempre presente, mais presente que eu próprio.
Eu próprio, por defeito talvez, não consigo lá chegar. Nunca encontrei o sossego nos outros – foram sempre os outros que me sossegaram. E quase nunca deliberadamente. Lembro-me, em particular, de um momento que consistiu apenas em olhar para alguém e sentir que tudo nela me era querido e conhecido e familiar. Não há no mundo paisagem como o rosto da pessoa amada, sobretudo quando está agitado, a rir-se ou a zangar-se, desprevenido, apanhado nos olhos como se estivesse dentro deles já. Sentir essa mistura de perdição e de proximidade é verdadeiramente sossegar.
Não são as mentiras, por muito boas, que sossegam. Só a verdade. Às vezes sossega ouvir “odeio-te! ” em vez de “amo-te!”, se “odeio-te!” for dito com amor e com verdade, e “amo-te” com preguiça, por hábito, ou expressamente para nos sossegar.(...)
O que mais queria na vida era sossegar. Não há diferença entre correr atrás das estrelas e ficar na cama a apascentar. O desasossego em que vivemos deve-se, pelo menos em parte, à nossa incompreensão do que é, na pura verdade, sossegar e à cobardia e ausência de vontade de tentar alcançá-la, entregando-nos nas mãos de quem nos pode ajudar. Que ao menos seja esta a causa do nosso desasossego, porque tudo o mais que queremos ou pensamos querer (a felicidade, a realização, o prazer, a tranquilidade) ao pé do puro sossego não é possível – e, se calhar, nem sequer é verdade."


(Miguel Esteves Cardoso - partilhado comigo pela minha amiga SS... Lê-lo foi rever-me, foi ler aquilo que procuro e que quero sentir... aquilo que sei que me faz bem! E portanto, este texto serve hoje às duas, talvez por razões totalmente diferentes... mas serve, decididamente!)

domingo, 30 de março de 2008

As minhas viagens...

Ir ao Aeroporto deixar alguém deixa-me sempre melancólica... hoje particularmente porque essa ida afectou todo o meu dia! Andei "azamboada", mole e cheia de sono... sem iniciativa. Sei lá... Já ontem também andei o dia todo de "birra", a não saber gerir muito bem o que sentia... Talvez este fim-de-semana me tenha feito perceber muitas coisas, ou talvez não...
Se calhar agora que penso nisso... ainda estou "birrenta". Lá está, fui ao Aeroporto, não fiz check-in, não tenho bilhete, fisicamente não vou a lado nenhum, mas... não páro de "viajar". Já PARAVA!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Pequeno Pormenor!

('tou fã das letras dos Xutos, esta é mesmo a minha cara! "O pormenor", o que tanto muda o pormenor!!!)

Pequeno Pormenor
Pequenas coisas que faltam na vida
Tornam-se as grandes incompletas
Pequenas coisas fazem parte
Não te esqueças

E se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta
Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não

A justiça em grande faz sombra à pequena
Frágil, diária de todos
Tantas pequenas injustiças tornam falso o sistema
A pequena dor nunca aliviada

Se tudo é um todo
E o todo é que importa
Não ponhas de lado
Aquilo que falta
Mesmo que não tenhas tempo
Pensa o que tens a fazer
Mede bem a importância
Dum pequeno pormenor
Um parafuso no foquetão
Um beijo ao deitar, um papel no chão
Uma prenda com cartão, um voto aqui
Ali um não...

terça-feira, 25 de março de 2008

O que foi não volta a ser...

Mesmo quando não se quer
O que foi não volta a ser
O que foi não volta a ser
Mesmo que muito se queira
E querer muito é poder

O que foi não volta a ser
Pode vir algo melhor
Embora sempre pareça
Que o pior está por vir
Nunca se deve esquecer
Não há volta
Sem partir

O que foi não volta a ser

(E vivam os Xutos! Tanta razão têm! ... nada volta atrás!)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Quem me leva os meus fantasmas...

Quem me leva os meus fantasmas...
Aquele era o tempo em que as mãos se fechavam
E nas noites brilhantes as palavras voavam
E eu via que o céu me nascia dos dedos
E a Ursa Maior eram ferros acessos
Marinheiros perdidos em portos distantes
Em bares escondidos em sonhos gigantes
E a cidade vazia da cor do asfalto
E alguém me pedia que cantasse mais alto

Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada

Aquele era o tempo em que as sombras se abriam
Em que homens negavam o que outros erguiam
Eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta

De que serve ter o mapa se o fim está traçado
De que serve até à vista se o barco está parado
De que serve ter a chave se a porta está aberta
De que servem as palavras se a casa está deserta

Quem me leva os meus fantasmas?

terça-feira, 11 de março de 2008

Inversão de sentido...


Inversão de sentido de marcha ... é que o fazemos quando nos enganamos no caminho. E está mal? Não! Está bem! Devemos fazê-lo ou corremos o risco de continuarmos pelo caminho errado! Nos últimos tempos devo ser a campeã das inversões de sentido! E quando mais vezes mudo o sentido mais me apercebo do quanto o deveria ter feito há ainda mais tempo! É claro que na vida, isto poderia ser bem mais fácil...Pelo menos na minha vida as inversões de sentido são-me sempre muito dolorosas... É dífícil depois de investir TUDO em algo voltar atrás e mudar de caminho... O doloroso é, neste caso, para mim, associado à dedicação... se me dediquei muito é-me também muito dificil aperceber-me de que não valeu a pena! Mas já os pessimistas costumam dizer: "quanto mais dás, mais perdes!" Em mim também isso está a mudar, estou a ficar ainda mais pessimista, ou mais cautelosa! Começo a notar em mim a necessidade de verificar bem os caminhos antes de enveredar por eles! Caramba, também alguma coisa tenho de ir aprendendo! Enfim, só espero conseguir travar antes do extremo... hum... ou isso já está incontrolável?

Hum... talvez espero que alguém me ofereça um GPS para não mais me perder! lol

domingo, 9 de março de 2008

Policy of Truth

You had something to hide
Should have hidden it, shouldn't you
Now you're not satisfied
With what you're being put through

It's just time to pay the price
For not listening to advice
And deciding in your youth
On the policy of truth

Things could be so different now
It used to be so civilized
You will always wonder how
It could have been if you'd only lied

It's too late to change events
It's time to face the consequence
For delivering the proof
In the policy of truth

Never again is what you swore, the time before
Never again is what you swore, the time before

Now you're standing there tongue tied
You'd better learn your lesson well
Hide what you have to hide
And tell what you have to tell

You'll see your problems multiplied
If you continually decide
To faithfully pursue
The policy of truth

Never again is what you swore, the time before

(Depeche Mode)

quarta-feira, 5 de março de 2008

A Fase do Regresso...

Hum... voltei de Berlim e o regresso não está fácil. A entrada na rotina, o stress abrupto no trabalho e a fase da minha Lua! Estou na fase descrente da minha Lua. Sinto, por exemplo, que hoje conseguiria ver problemas até na perfeição (se ela existisse...)
Sinto uma quantidade de coisas incoerentes....sinto que tenho tanta coisa para dizer, mas na altura certa não sai nada. Depois já nem sei o que ia a dizer ou aquilo que ia realmente dizer já não me parece adequado. Sinto que quero fazer tantas coisas, mas não me mexo! Basicamente sinto que o que sinto não me acompanha. Porque não me quero sentir assim, gostava de estar a conseguir viver o momento, simplesmente...Ontem perguntaram-me e porque é que estás assim? BOA! Porque é que estou assim? Adooorava saber para poder resolver. No fundo, ando a apregoar as contradições dos outros, mas eu é que me sinto realmente contraditória! Incapaz de decidir o que quer que seja, simplesmente por não acreditar em nada! E hoje... ainda por cima dei de caras com este texto aqui na net... e lê-lo foi a "cereja em cima do bolo" de um dia realmente mau...

Não sei se hoje vou ficar aqui
Não sei se hoje vou gostar de ti
Não sei o que amanha vou sentir
Não sei se Rir ou Chorar
Não sei o que é suposto eu fazer
Não sei em que é suposto acreditar
Não sei se Esquecer ou Lembrar
Só sei o que me fazes sentir...
Mas não sei como o conduzir...


Hum... isto ha-de passar... tudo passa, né?